26 junho 2008

Menina da Moda VI

O telefone do quarto anunciou a sua chegada.
O coração acelerou, as pernas tremeram. Deu um compasso de espera ao nervosismo e desceu.
Viu-o de costas à porta do hotel. Vestia umas calças pretas e um casaco de cabedal. Elegante, como sempre... misterioso, sensual.

Apeteceu-lhe correr para ele. Beijá-lo de uma só vez, sem pensar, sem falar. Mas caminhou segura, contendo todas as emoções que aprisionava dentro de si.

Ele voltou-se... cumprimentaram-se discretamente. Sempre assim foi. Podiam estar revoltos por dentro a desejar um abraço demorado, mas mantinham a distância de segurança, o muro que os separava dos sentimentos.
De tudo o que sentiam sem poderem sentir.

O jazz electrónico embalou-lhes a viagem e quebrou a frieza de um silêncio que foi apenas cortado pelo momento em que ele lhe deu a mão.

Jantaram num lugar discreto, escolhido a dedo por ele, que conhecia os gostos sofisticados da menina da moda. Ambiente tranquilo, embalado em tons pastel. Recantos com mesas de design... Muita arte nas paredes. Gastronomia light.
Olharam-se durante aquela hora e meia... falaram da vida, de Paris, de trabalho, de tudo e de nada ... meros panos de fundo que escondiam a verdade mais que evidente. Estavam felizes por se reverem... estavam “inteiros”, bonitos um para o outro... de corpo e alma ali naquele lugar.

Percorreram os Champs Elysées, enfeitados de montras dos protagonistas da moda mundial. Viajaram pelas ruas em deambulações, sem destino... Mera contemplação.
Paris é sítio de se ver à noite! Cidade das mil e uma luzes, dos tons quentes que alimentam corações, e neles, o mistério de uma noite que ainda estava a começar.

Subiram a Montmartre a tempo de ver, do alto da colina, a Torre Eiffel que, há hora marcada, se rodeia de estrelas fluorescentes numa dança intermitente que dura 15 minutos.
Estava cada vez mais frio e eles aconchegaram-se um no outro num abraço permanente.
Beijaram-se.
Um beijo que lhes veio da alma. Misto de revolta, desejo, saudade, raiva das barreiras e distância que lhes foram impostas.

Sem tempo, sem sentido, nem palavras e sem caminho para lá chegar, estavam no apartamento dele. Coração de Saint German de Prés. Terceiro andar, vista sobre a movida parisiense.
Despiram-se de um só fôlego. Os corpos uniram-se violentos. Desejosos, loucos no reencontro. Ao ritmo dos sons daquele casa... Ao ritmo do heavy metal que ele tocava.
Entraram a madrugada juntos, num só... ofegantes, apaixonados.
Adormeceram ali mesmo, no chão da sala, rodeados de fotografias gigantes dele em palco e das suas guitarras. Quatro ao todo. Fiéis companheiras de sempre e, hoje, testemunhas de um momento que ele haveria de recordar, mais tarde, muitas e muitas vezes.

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