09 junho 2008

Menina da Moda III

Acabava de chegar. Estava exausta. Doía-lhe o corpo todo depois daquela noite mal dormida no avião.
O som do filme de acção que entretinha os passageiros, o choro do bebé da cadeira atrás e o cheiro de uma refeição de bacalhau servida às três da manhã não a deixaram descansar mais do que meia hora seguida.
Aterrou de mau humor... mas o cheiro daquela cidade luminosa, monumental, fotográfica impregnou-lhe o espírito assim que saiu do aeroporto.
Estava em Paris... estava na cidade luz... na cidade onde ele vivia há mais de uma década.

Talvez por isso a menina da moda tenha esgotado todas as suas forças nesta parceria entre a sua empresa de agenciamento de artistas e esta, sediada em Paris, que se dedica à promoção e organização de espectáculos de culturas africanas.
Estava-lhe no sangue esta determinação em alcançar os objectivos através dos mais variados fins... Por impossíveis que pudessem parecer.
Para a menina da moda o impossivel era somente uma palavra que não fazia o menor sentido no seu jeito de agir.

Desta vez foi difícil, esteve quase a desistir, mas depois de muitos contactos e conversações tinha conseguido fechar negócio... e mais importante, tinha encontrado uma forma de se deslocar a Paris com frequência (obviamente por motivos profisisonais).

Instalou-se no hotel e a ansiedade quase que não a deixava poisar as malas que trouxe cheias de roupa, calçado e acessórios. Ligou-lhe de um só fôlego...
Desde que retomaram o contacto por mensagens, chamadas e Internet falavam com frequência. Ele sabia que ela ia chegar e também a aguardava.

Não se viam desde o tempo em que se conheceram.

Tinham passado quatro meses desde aquele "flirt" adolescente e fugaz na cidade da Praia. Quatro longos meses de silêncio, alternados com contactos diários, instântaneos e permanentes. Quatro meses de sentimentos confusos... e de memórias, recordações e saudades... O flirt do Verão passado tinha sido muito mais do que isso. Prolongara-se e aguardava por um reencontro.

Atendeu ao primeiro toque. Alguns segundos de conversas circunstanciais. E logo foram directos ao assunto. O único que realmente lhe interessava.
Combinaram um encontro, não sem antes mostrarem toda a altivez e indiferença característica desta relação telefónica que mantinham há várias semanas.
Ela estava ocupada com os seus negócios, tinha algumas visitas de cortesia a fazer... talvez só mais tarde se pudessem encontrar. Ele iria passar o dia nos ensaios da peça de teatro que estreava em breve. "Sim... talvez mais tarde".

As palavras contrariavam todos os seus desejos. "Quero ver-te agora, já!" era a frase que gritava em silêncio, que saía das entrelinhas daquele diálogo estudado.

Combinaram jantar, logo à noite. Ele viria buscá-la.

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