10 junho 2008

Menina da Moda IV

Conheceram-se em Julho.
Ele estava de regresso à terra natal para umas férias, depois de uma digressão europeia da sua banda de heavy metal.

Ela tinha acabado de chegar de uma viagem pelos Estados Unidos, onde passou dois meses a promover o novo trabalho de um jovem promissor da música criola.

Encontraram-se num bar da Praia. A "menina da moda" chegou em grande estilo, exibindo as roupas novas que comprara nos states.
Jeito confiante, sempre sorridente... rodeada de amigos.

Ele já lá estava, mais discreto.
Vestido de negro, contrastado com os piercings prateados que lhe adornavam o rosto sóbrio e bonito. Imponente, altivo. Olhar de lince... braços musculados e cobertos de tatuagens tribais.

Cruzaram muito mais do que um simples olhar de reconhecimento. Trocaram sinais, sorrisos, pequenos gestos envergonhados.
E falaram, finalmente. Ele chamou-a. Ela acedeu sem pensar duas vezes.
Estava rendida à sua imagem e viria a ficar desarmada com o diálogo que se seguia.

Ele era guitarrista de uma banda de heavy metal e actor de teatro. Vivia em França há doze anos. Mas já tinha passado por Londres, Amesterdão, Dakar, Austrália e India.
Saiu da Praia ainda criança. Correu o mundo atrás do pai, diplomata, e depois atrás do sonho de estudar e ensinar música.
Apaixonou-se pelo teatro, em Londres, e passou a dedicar-se também às artes de Moliére.

Ficaram horas a falar de viagens, de música, de representação. Trocaram experiências, sonhos, ambições. Tinham tanto em comum... Gostaram-se!
A "menina da moda" pode exercitar essa paixão que tem pelas conversas inteligentes e desafiantes. Tão raras entre os seus habituais "pretendentes".

Ele descobriu nela esse jeito encantador de ser feminina, sensual e ao mesmo tempo tão interessante.
O tempo passou, os amigos foram saindo discretamente, não sem antes darem conta do clima de encanto que os envolvia.

Falavam com um brilho no olhar e o entusiasmo de se terem descoberto. Mantinham silêncios estratégicos de contemplação... para logo a seguir retomarem as palavras por tempo indeterminado. Sem tédios, nem vulgaridades.

Ao fim da noite estavam sós. Ela levou-o à casa que a familia mantinha na Praia. O carro parou e não conseguiram evitar um beijo de despedida. Longo, intenso, doce... sem pecado, nem sentimentos de culpa.
Aquele beijo, o primeiro de tantos, era o único desfecho possível de uma noite que seria recordada por muito tempo.

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