17 agosto 2008

Caminhos

Há caminhos que são nossos... só nossos... não por herança, escritura ou outro documento legal. São nossos porque deles nos apropriamos... Porque por ali passa o nosso corpo, a nossa alma vezes sem conta.
São nossos quando, convictos, julgamos que por lá não anda, nunca, mais ninguém.

Eu encontrei, há muito, um desses caminhos...um espaço demasiado mágico... lugar do meu equilibrio. Eco da minha alma.

Um caminho estreito que rasga um pedaço da serra mais querida do meu viver. Ladeado por pedras imponentes, giestas, silvas... amoras silvestres. Perfumado de eucalipto e pinheiro. Escondido na paisagem, engolido por uma vegetação cada vez maior. Comos se quisesse manter-se assim, exclusivo para mim.

Reina o silêncio nesse meu caminho, contrariado às vezes pelo vento que faz dançar as copas das árvores e alguns acordes de uma música que conheço bem e que toca de novo ao meu ouvido.

Percorro diariamente este lugar secreto, como se me fosse ali reencontrar.
Páro a bicicleta, caminho, descanso nas rochas gigantescas, verdadeiras ousadias de uma Natureza que ali foi generosa... Penso com mais clareza... em ti, em mim, em tudo, tudo, tudo!
Posso chorar, gritar, rir descontroladamente. Dançar e cantar...

Partilhei o meu caminho contigo. Transformei-o no nosso espaço exclusivo.
Refúgio de tempestades, testemunho de bonanças vividas ao pôr do sol.
Deixei-te percorrer comigo esse rasgo de terra sinuoso, longo e envergonhado no meio da serra.
E também tu te apaixonáste pela paisagem, pelos aromas, pelas cores e formas. Também tu encontráste ali o teu equilibrio... ao meu lado, nessa caminhada de todos os dias.
Hoje o meu caminho é teu também. É nosso, como um bem que nos pertence... Um segredo bem guardado.

O caminho há-de sentir a nossa falta durante uma ausência demasiado longa.
Há-de chorar a nossa companhia aos finais de tarde. O som das minhas canções, o barulho dos teus sorrisos... a nossa presença sentados a contemplar o fim do dia.

Para o ano havemos de voltar... o caminho estará à nossa espera, escondido, discreto, silencioso... resistindo a outros intrusos.

07 agosto 2008

Mirrors

De todos os rostos que me mostráste... de todos os sorrisos, salgados por lágrimas... de todas as rugas dessa expressão indignada, infeliz, sorridente, terna.... de todos os trejeitos da tua face... reflexos de alegria, carinho, amor...
De toda a indiferença desenhada nas curvas da tua pele... de toda a luz que saía desse olhar, perdido, vago... intenso... que ora me cegava ora iluminava o meu caminho...
De todas as formas de uns lábios que buscavam os meus... em desafio de tentação...

De todas as caras que me mostráste...
Nunca encontrei o espelho da tua alma... Nunca o teu rosto reflectiu essa verdade que escondeste só para ti...
Quantos rostos tens? Um dia... talvez... possamos juntos descobrir...

05 agosto 2008

Águas doces

Entre águas doces e correntes tenho vivido.
Junto a rios, ribeiros, riachos, limpídos, transparentes, cristalinos que correm na direcçao do mar.

Gosto de sentir as águas frias, geladas do Mondego e seus afluentes quando me reencontro ali, mais um ano... Quando me olho nesse espelho natural que reflecte o meu ser desde criança e banho ali o meu corpo de novo.

Relembro as viagens de comboio... essas corridas lado a lado com o rio, que nunca consegui vencer. Tu, corrias mais depressa, contrariavas os vales, as montanhas e terrenos sinuosos. Sempre foste mais rápido que a minha carruagem...

Páro, ainda hoje, a ver esse Tejo tom de prata... o rio imenso e todas as paisagens que o abraçam...
As memórias, as pessoas, os cheiros, os sons que transporta nessa longa caminhada.
Tejo e todos os seus filhos que me viram crescer nas suas margens... olhando admirada de cada vez que o rio decidia sair, fugir, evadir-se do seu curso normal e encher de água as terras, as casas, as lezírias do meu Ribatejo!

Sim, gosto de rios.
Revejo-me no seu curso linear... e também nas fúrias repentinas... nos momentos em que decide fugir do leito, saltar as margens e vencer todas as barreiras que lhe foram impostas...mostrar a sua força de uma só vez... e, no momento seguinte, retomar calmamente o seu percurso de sempre e reencontrar-se no oceano...

Assim sou eu...

 
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