05 outubro 2009

Quero partir!

Ela disse-lhe que queria partir... Tinha vontade de evadir-se, mudar, vestir o seu mundo de outras cores, outros cheiros, outras vidas.
Deixar longe os cadáveres e destroços desse terramoto em que vivera. Simplesmente ir, sem destino, ou melhor, com tantos e tantos destinos.

Ela estava ávida de viagens... dessas sem limites, sem fronteiras, nem barreiras morais.
Viagens livres, onde não coubessem finalidades e objectivos... amarras dum viver inevitável.
Ir... para lá da linha que lhe delimitava o horizonte... Para lá das pessoas.
Para onde ninguém soubesse o seu nome, credo, religião...

Não, desta vez não! Não havia mais tempo para esperar! Já lhe tinha dito, pedido, implorado, até. Não havia espaço... lugar para diálogos...não havia meios-termos.
Ela queria mesmo partir!
E repetia-o tantas e tantas vezes caminhando em circulos cada vez menores. Primeiro à volta do "seu"mundo; depois circundando a sala onde vivia a maior parte do tempo, evoluindo numa espiral que se fechava e só terminou quando já girava loucamente sobre si mesma.

E rodava, rodava, rodava... como uma louca. Perdendo o equilíbrio, caindo e levantando-se de novo para continuar a girar ao mesmo tempo que gritava aquilo que já lhe dissera tantas vezes.

E assim, girando, enlouqueceu, perdeu o norte, a fronteira entre o real e a ficção... presa a essa vida que não escolheu... pedindo-lhe simplesmente para partir.

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