28 fevereiro 2008

Tempestades

Gosto de tempestades, de furacões, de tornados. De forças em movimento... das alterações cósmicas, climatéricas... dos dias intempestivos onde todas as sensações marcam presença até cairmos exaustos contrariando a nossa natureza... Gosto daquele vento forte que ameaça levar-nos até outros lugares. Do dilúvio que se abate sobre nós e nos inunda de chuva ... de lágrimas...

Procuro o barulho das tempestades... o grito de alguém que se assusta, o teu choro discreto, o som superior de um trovão que, ao ressoar, impõe minutos de silêncio, de respeito, de calmaria. Para tudo de novo recomeçar.

Gosto das cores, do cinzento forte, às vezes iluminado pela passagem de um raio de luz, que rasga o nosso céu... Gosto das sete cores de um arco iris modesto que ainda conseguimos avistar lá longe numa trégua solharenga.

Navegamos, eu e tu, quase sempre em dias de tempestade, quais marinheiros experientes, capazes de atravessar as águas tumultuosas sob chuvas, ventos, trovoadas...
Na bonança recarregamos forças, reencontramo-nos mais fortes, admiramo-nos uma vez mais.
É bom esse sossego de fim de tempestade, sabe bem... mas não é para nós.
O caminho está traçado pelo meio dos dilúvios, da ondas que ameaçam engolir tudo o que nos pertence, das rajadas que sopram frustradas por não serem mais fortes, por nunca conseguirem vencer-nos.
Será sempre esta a nossa rota, nela nos sentimos vivos e nos reunimos finalmente numa comunhão de todas as emoções, em busca de mais um dia de tempestade...

Dedicado à Lena ( a minha amiga "Furacão")

25 fevereiro 2008

Mimada eu???

Chamáste-me mimada...
Dizes que nasci virada para a Lua, que gosto do meu umbigo acima de todas as outras coisas, que o mundo gira somente à minha volta.

Tens toda a razão! Conheceste-me bem. Eu desvendei-me para ti muito mais do que queria. Desmascaráste essa minha natureza e por ela te fixáste, mesmo quando negavas a ti mesmo que já era em mim que o teu pensamento descansava.

Eu percebi cedo demais o teu fascínio. Sabia desse sentimento dúbio de ódio e uma paixão tão intensa que contrariava todas as tuas verdades. Conheci a atracção, o desejo... e diverti-me muito a ver-te nessa batalha contigo mesmo.

Sim, tenho saudades de quando lutavas contra a menina mimada. Recordo, hoje, o teu olhar, acreditando que essa menina se anulava perante ti. Lembro-te a reivindicares as atenções, os mimos, os gestos, certo de que conseguirias desviar o olhar dessa menina, para algo mais que não fosse o seu próprio umbigo... desejando que por uma só vez o mundo girasse em torno de ti.

Desististe. Dou-te razão... Talvez nunca fosses conseguir.
Contigo fui sempre uma menina mimada, rabujenta...certa das suas verdades, fixada no que sempre quis. Contigo mandei, exigi, fingi que eras mais do que um dia conseguirias ser. Sempre com uma razão- cobrar de ti todos os mimos e atenções. Cobrar olhares, sorrisos, paixões.

Sim, fui a menina mimada que hoje recordas com muita mágoa. E eu, nem sequer lamento.

Nunca ganháste um amor eterno. Não estava guardado para ti. Talvez hoje te invada uma revolta por teres perdido o teu tempo a tentar mudar a menina mimada... Talvez seja eu uma má memória, uma lembrança que ainda procuras apagar...
Mas, pelo menos, dei-te estórias para escreveres um belo romance...

Inspirado em- "Travessuras da Menina Má"- Mario Vargas Llosa

22 fevereiro 2008

Dúvida???

Foto: Novela "Duas Caras"- TV Globo

Quase que podia ser uma "pergunta cafeana", lá dos lados de "Soncente"... Mas não. É uma dúvida que me persegue e à qual, hoje mais do que nunca, preciso de dar uma resposta.

Os homens que gostam de novelas brasileiras, principalmente os que sentem cada episódio como parte da sua própria vida, são seres "esquisitos"?


Aguardo respostas mas não ofereço cafés...

21 fevereiro 2008

Eclipsa-te

"A Lua escondeu-se atrás da Terra". Timidamente, como quem quer fugir sem dar nas vistas... sem que ninguém perceba que por uns momentos ela quis contrariar a sua própria natureza.

Durante esse trajecto, lembrei-me de ti.
Também tu te escondeste, mas, tal como a Lua, a tua luz é tão forte que te denuncia onde quer que estejas.
Sinto-te perto, oiço-te, respiro-te aqui...
A tua fuga pode até durar mais do que um eclipse lunar. Sem sucesso!
Será sempre essa luz que brilha só para mim. Ela vai situar-te, por ela te vou descobrir...

No momento em que a Lua se escondia também tu olhavas o céu.
Imaginei-te no teu esconderijo secreto, com essa luz que só eu consigo perceber e que se acende como quem quer ser visto, sem ver...
Eu consigo ver-te nesse teu eclipse, que, no fundo, também desejavas que fosse o meu...

20 fevereiro 2008

Odeio-te


Hoje odeio-te! Apetece gritar, dizer o teu nome em voz alta... Não! não te quero chamar, quero apenas ter a certeza que esta raiva é toda só pra ti.

Já nem tem graça o jogo de gato e rato que teimas em fazer. Perdeu todo o charme quando passei a prever essas fugas estatégicas...

És fácil demais para mim. Entendo-te de corpo e alma. Sei-te de cor...
Cada passo, cada palavra, cada gesto. Tudo sobre ti.
Já te desvendei... perderam-se os segredos, a adrenalina de te descobrir.
Por isso odeio-te.
Odeio-te porque deixáste que fosse assim... sem surpresas, sem magia, sem desafios, nem conquistas.
Tenho saudades de quando falávamos com reticências, vírgulas e suspenses de olhar... Restaram os pontos finais, as frases pobres, sem imaginação, os complementos directos de uma relação que poucas páginas irá ocupar.
The End, é o que me resta dizer-te, com um ódio enorme que vou estimar, para que não me sinta tentada a escrever uma sequela, desta história sem sentido...

18 fevereiro 2008

Na ilha di Santiago



Somada ao sábado de mercado... Peixe fresco, fruta bonita de se comer com os olhos, vestimentas di Merca, di Europa. Guloseimas, “sucrinhas”, “xínguas”...
O rumo: Tchada Galego em busca da memória de outros tempos..
Um caminho de terra que serpenteia as escarpas até lá chegar. O brilho nos olhos de quem, outrora menino, ali corria, brincava e prolongava os dias de criança.

Ao fundo a casa di Nhu Césa (homi famado na sê tempu...)
Duas crianças do presente transportam para um passado que não ficou assim tão longe. Pouco mudou ali, apenas os personagens.
Perdura a áurea di Nhu Césa na casa, nos seus descendentes, no jeito de pôr a panela no fogo à hora marcada.

Sem dúvida que ele continua naquele lugar, sentado na ombreira da porta, mergulhado na sua Biblia velhinha... brincando com os netos, que agora cresceram, ou ensaiando estratégias para ganhar o frik frak pintado no assento de pedra.

Humildade em cada rosto, sobretudo no de quem ali regressou para prestar a devida homenagem e recordar uma infância feliz.

Cuz cuz com mel e leite na despedida e a promessa de um dia voltar às memórias di Nhu Césa...

Domingo nos Picos

Parabéns à Dona Maria do Rosário e ao Sr. António Mendonça - 50 anos de união são uma odisseia digna de grandes festejos.
A familia ali reunida, 8 filhos (todos a viver na Praia), Outros três estão emigrados. Noras, genros... Vizinhos e amigos de uma casa que sempre foi generosa. Música, alegria, jogatanas de cartas e muitos netos a brincar... Perdi-lhes a conta.

O lar foi construído com amor e cinco anos de emigração. Uma casinha térrea, espaçosa, bonita por dentro e por fora, onde reina um páteo sempre fresco e uma vista até às montanhas que circundam a zona dos Picos.

Nas encosta, o Sr. António contraria as leis da gravidade e planta o milho, a mandioca, a batata... produção “di terra” servida num almoço muito “sabi”.

A festa, como diz a Dona Rosário, foi melhor que a do casamento... naquele tempo as celebrações eram mais humildes, menos fartas.

A familia junta na despedida, já a tarde ia no fim. Gratidão pelo convite de um dia tão bem passado e o desejo de mais anos de amor e união para o Sr. António Mendonça e Dona Maria do Rosário, dos Picos.

Regresso à Praia com paragem no Sr. Fernando de Pina para buscar morangos, mesmo com sabor a morango (coisa rara nestes tempos de estufa).

Passagem no Poilão para ver campos de esperança numa agricultura de regadio que começa a ser próspera.
Praia no caminho, desta vez pela estrada antiga. Os saltos e solavancos são compensados por vistas obrigatórias para terminar um fim de semana bonito, mergulhada nas memórias dos “badius di fora”.

14 fevereiro 2008

O mundo em forma de coração... Só hoje!

Hoje o calendário manda suspirar de amor o dia inteiro. Andar nas nuvens, caminhar sem ter os pés assentes no solo... flutuando levemente num mundo em forma de coração.
Hoje é preciso comprar peluches, flores, postais com frases românticas... coisinhas fofas para oferecer ao bem amado. É obrigatório ler poemas de amor, ouvir baladas de fazer chorar as pedras da calçada e amolecer até os corações de pedra.

À noite, sentido obrigatório para os restaurantes. Uma multidão de dois, cadeiras coladas no casal que fica atrás de nós. Silêncios de quem pouco ou nada tem a dizer, mas sempre aquele olhar apaixonado que o dia impõe.

Amanhã a vida vai continuar, menos fútil... o Mundo voltará à forma redonda. Guardam-se os peluches e os poemas na gaveta. A terra volta a ser solo firme.

A todos os que só têm um Dia dos Namorados por ano, votos sinceros de um festejo de S.Valentim muito feliz!

Ps- seja como fôr, aceito ramos de flores!

13 fevereiro 2008

O meu ponto G

És o meu ponto G!
Nem sempre apareces quando te procuro... persiste o mistério sobre ti que me faz tantas vezes duvidar da tua existência.
Mas quando te revelas provocas essa sensação única de prazer, desejo, felicidade sem limites e sem sentido.

Gosto de te dominar. Gosto quando baixas as armas para seres mandado, sem resistires, por ser apenas eu!
És vaidoso, sabes que tens um poder infindável sobre mim. Adoras ser o centro do mundo. Precisas da minha dedicação, do meu toque, da minha atenção. E não suportas quando finjo esquecer-te, quando te volto as costas e por capricho minto que posso bem viver sem ti.

A verdade, essa sabemo-la os dois- tu és o meu ponto G!
Uma espécie de realidade inquestionável e tão óbvia que me ligará a ti para sempre, nessa busca eterna de prazer sem descrição, que só um ponto G muito especial pode fazer-me sentir.

11 fevereiro 2008

Memória


Estou a esquecer-me de ti. Talvez porque nada tenhas feito para continuar prisioneiro da minha memória.
Queria que ficasses.
Tento recuperar momentos, imagens. Procuro os sentimentos que outrora me faziam mergulhar em silêncios profundos, noutras latitudes e noutras naturezas.

Quebrou-se a magia que pairava sobre ti.

Vá lá, volta de novo, com essa tua teimosia em aparecer quando eu já não quero...mesmo querendo!

Não esperava que fosse tão fácil deixar-te lá longe. Não queria que o teu vazio se preenchesse como se nunca tivesse existido.
Tempo gasto, estórias perdidas na rua, recordações...tantas palavras por ti e para ti.
Dias inteiros na minha memória, como se fosses ficar para sempre. E agora?
Tento lembrar-te à força quando já começas a desvanecer em mim. Tento por teimosia, por orgulho, por egoísmo.
Simplesmente para que não seja vão este tempo que me demorei em ti.

08 fevereiro 2008

Banal

Para ti tudo é banal! Lidas com o mundo como se nada tivesse força suficiente para te prender mais tempo que um mero olhar.
Ages como um passageiro na tua própria vida, sem sentido, sem rumo, sem destino.
Não vives para surpreender ninguém, nem a ti!
A loucura saiu definitivamente do teu espírito porque julgas que assim controlas o mundo. Um mundo de imagens ténues, de aparências.
Nunca sentirás a profundidade de um sentimento sincero, de um grito de raiva e desespero ou de um amor levado ao extremo.
Auto defesa? Talvez. Mas não tens do que te defender. Isoláste-te sozinho nessa muralha. Ninguém te irá atacar porque já todos se esqueceram de ti.
Aprende a ver, mesmo que não tenhas de olhar. Emociona-te e mostra isso a todos.
Mostra-o a mim que te desperto todas as emoções mesmo quando negas essa evidência.
Surpreende-me uma só vez, tal como eu te surpreendi em tantos momentos da nossa estória que por tua culpa se tornou banal.

 
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